Arminda Prazeres da Silva Fernandes completou um século de vida. Nasceu em 1913, no mesmo ano que Armando Ginestal Machado e na mesma cidade de Santarém. O engenheiro viria a ficar conhecido pelo trabalho de preservação do património dos caminhos-de-ferro e criou as primeiras secções museológicas ferroviárias. Arminda não teve a oportunidade de estudar e tirar um curso e foi uma simples modista, como diz, uma vida inteira. Depois da quarta classe começou a apanhar alfinetes e a aprender a arte de fazer vestidos. casacos de pelo
Utente do lar da Misericórdia de Santarém, Arminda não tem o seu nome na internet, numa wikipédia ou num qualquer blogue. Uma artista à sua maneira sem nome inscrito na história, mas que vestiu muitas mulheres mais ou menos bonitas, mais ou menos importantes. Filhas de médicos conceituados iam aos bailes com os vestidos de Arminda. Mulheres de doutores e engenheiros recorriam aos seus serviços. Numa época em que ir à modista era um luxo ao alcance só dos mais abastados, que pagavam na hora. Arminda devia ser das poucas que não tinha livro de fiados.
Não se recorda se alguma vez se cruzou com Ginestal Machado, mas conheceu outras pessoas da história da cidade, da região e do país. Como o fundador da Feira do Ribatejo e impulsionador de muitos grupos de folclore, Celestino Graça. Arminda, a mulher que trabalhou até aos 77 anos, fazia os vestidos da irmã dele. Foi à inauguração da primeira feira. “Eram uns barracões, mas havia um grande entusiasmo, muita gente”, recorda a esposa de Fernando Marques Fernandes, um dos sócios e fundador da panificadora Sopasal, que já faleceu.
No lar, apesar dos seus 100 anos, ainda faz a higiene pessoal sozinha, não sai do quarto sem a maquilhagem e só não faz renda ou bordados porque vê mal. No dia do aniversário, 4 de Abril, pediu uma prenda ao provedor da instituição, Mário Rebelo: uma consulta no oftalmologista. lojas de roupa online baratas
Viveu grande parte da sua vida no bairro Salazar, depois bairro 16 de Março, entretanto demolido, em Santarém. Não se conforma que as antigas casas do centro histórico onde antes ecoavam gargalhadas, havia vida, sejam agora pedaços de histórias a caírem aos poucos. A melhor coisa que diz ter-lhe acontecido foi ter casado com um homem que foi sempre também o seu amigo. Contraiu matrimónio aos 21 anos. Numa época em que um casaco comprido feito à mão custava cem escudos.